quinta-feira, dezembro 29

Monção das cores


Vejo-as vaguear pelas lojas, nas ruas, meio perdidas nas grandes superfícies, olhos mortiços, olhar alheado e luto indisfarçavel. As ausências são lixadas nesta altura; as mortes recentes reabrem as suas feridas e, mesmo sem querer, afastam os felizes, como uma doença contagiosa.
"É isso", penso eu, "o anonimato pode ser benéfico; para as empregadas do comércio com quem falam são só mais uma cliente, uma anónima sem circunstâncias e por isso são tratadas sem perigo de contágio.
O anonimato serve para o desabafo, para a confidência e para o queixume. A indiferença também pode ser amiga, caso se fuja (nem que seja por momentos) do aconchego e a familiariedade. Compreendo-as. O coração continuará apertado, mas o tempo há-de ajudar. Porventura um dia poderão voltar de novo a sentir-se vivas e a cuidar dos vasos ou dos canteiros; as plantas sem raíz não são boas companheiras. Rapidamente ficam sem cor nem cheiro e definham como naturezas mortas. Ficam bem nos museus emolduradas, mas não nas nossas vidas. Com alguma sorte, mais tarde, a vida pode voltar a escrever-se com outras letras e hão-de vir novas celebrações, assim tenham o coração aberto para as receber,

1 Comments:

Blogger Unknown said...

Amiguinha,gosto do vestido!;)

2:09 da tarde  

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