segunda-feira, novembro 17

Estações fora de horas

Um outro mundo, as estações de serviço fora de horas. Falo daqueles estabelecimentos com pré-pagamento, onde se vende gasolina, bebidas, cigarros, pão, congelados, jornais, revistas e até comida para animais. Certamente saberão do que estou a falar; em Lisboa há algumas deste género, que dão um grande jeito de dia para um litro de leite ocasional ou uma embalagem de queijo. À noite, pertencem a outro tipo de pessoas. Principalmente frequentadas por noctívagos sem gasolina, mas sobretudo procuradas para compra de cervejas ou cigarros, sem acesso ao interior, todas estas transacções se fazem através de um vido, sem qualquer contacto com o paciente funcionário.
Acredito que estejam todas vigiadas por câmaras o que, apesar de dar uma certa segurança ,não nos impede de sentir algum receio. Muitas vezes são miúdos ou rufias maduros em estado alcoolizado ou cheios de vontade de uma valente bebedeira, a avaliar pela quantidade de álcool que levam nos sacos. Outras vezes são solitários, com noites longas, a quem se acaba a companhia da cerveja e dos cigarros. São também locais para taxistas, funcionários com turnos nocturnos, local de passagem entre um bar e outro, viajantes que chegam com frigoríficos vazios, uma última paragem ou uma necessidade.
Sejam quais forem as circunstâncias (creio nunca ter lido nada sobre isto) e do pouco que conheço, se terão ou não alguma clientela fixa, lá estão eles, sempre abertos a produtos de última hora, ou melhor, fora de horas.
Quando os vejo partir ao volante, de voz entaramelada de tanto álcool e com passo incerto, fica por ali um amargo sentimento de impotência e comigo um aperto no coração. À nossa frente, um jovem casal de namorados leva uma noite cheia de precauções, funcionários de uniforme recolhem a casa com cigarros e chocolates e um cavalheiro pede uma revista com uma grande capa de mulher sem roupa.
A todos, uma boa noite
Texto editado
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